quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Literatura Africana de expressão portuguesa II


Francisco José Tenreiro (1921-1963), natural de São Tomé e Príncipe, destacou-se como poeta e ensaísta. Ensaios nas áreas da geografia, sociologia e história encontram-se dispersos por diferentes revistas e jornais.
Poeta, ensaísta, contista, colaborador de diversas publicações, integrou a Casa dos Estudantes do Império, foi co-fundador do Centro de Estudos Africanos, professor universitário, doutorado em Ciências Geográficas (FLUL) e em Ciências Sociais (Inglaterra,1961). Em vida publicou apenas um ensaio: A Ilha de São Tomé (1962). Da sua obra poética forma publicados Ilha de Nome Santo (1942) e Obra poética (1967), reeditada em 1982 com o título Coração em África.

 
Mestiço!

Texto explicativo 2 (ênfase): MiscigenaçãoNasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Texto explicativo 2 (ênfase): Afirmação da colonização portuguesa (miscigenação)Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição

Foi isso que um dia
o branco cheio de raiva
cantou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:

- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah! Mas eu me danei…
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!…

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco…
Quando amo a negra
sou negro.
Pois é…

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